É pobre e já foi rica. Era mais pobre quando Camões aqui passou primeiro, cheia de livros a cabeça e lendas e muita estúrdia de Lisboa reles. Quando passados nele os Orientes e o amargor dos vis sempre tão ricos, aqui ficou, isto crescera, mas a fortaleza ainda estava em obras, as casas eram poucas, e o terreno passeio descampado ao vento e ao sol desta alavanca mínima, em coral, de onde saltavam para Goa as naus, que dela vinham cheias de pecados e de bagagens ricas e pimentas podres. Como nau nos baixios que aos Sepúlvedas deram no amor corte primeiro à vida, aqui ficou sem nada senão versos. Mas antes dele, como depois dele, aqui passaram todos: almirantes, ladrões e vice-reis, poetas e cobardes, os santos e os heróis, mais a canalha sem nome e sem memória, que serviu de lastro, marujagem, e de carne para os canhões e os peixes, como os outros. Tudo passou aqui ─ Almeidas e Gonzagas, Bocages e Albuquerques, desde o Gama. Naqueles tempos se fazia o espanto desta pequena aldeia citadi